NAS ENTRELINHAS                                 


NOSSA AMÉRICA

de Memélia Moreira

Terça-feira, Dezembro 09, 2003

RESISTÊNCIA BOLIVARIANA

Mais uma vez, o tiro saiu pela culatra. Na mais recente tentativa de desestabilizar o governo realmente popular e democrático do presidente venezuelano Hugo Chávez a Coordenação Democrática (oposição formada por empresários de vários setores, principalmente de comunicação, industriais e banqueiros) embora alardeando ter reunido 3,6 milhões de assinaturas no referendo, não está conseguindo comprovar esse número que seria suficiente para reduzir o tempo de mandato do presidente da República. Além disso, foi obrigada a assistir o espetáculo da mobilização popular acontecida no domingo sete de dezembro, quando Chávez festejou o quinto aniversário de seu governo, falando para milhares de pessoas, que também comemoravam antecipadamente a derrota de seus adversários.
E os adversários promoveram várias fraudes no decorrer do processo de coleta de assinaturas. De acordo com relatório da deputada federal argentina Alicia Castro, designada como observadora internacional do referendo, entre as irregularidades cometidas, a Rádio TV Caracas, instalou equipamento para filmar a coleta de assinaturas, enquanto promovia show com artistas de televisão que faziam piadas contra o presidente da república e em favor do referendo. Em cinco lugares de votação, diz o relatório da deputada argentina, “foram entregues panfletos favoráveis ao referendo, nas mesas de coleta de assinatura”. Alícia, que foi insultada por pessoas que trabalhavam na coleta de assinaturas, e não aceitavam a participação de observadores internacionais, encerra seu relatório dizendo que, na qualidade ‘de observadora imparcial e como deputada do Parlamento argentino, quero assinalar que a coleta de assinaturas para um referendo revogatório é um valioso processo da democracia participativa reclamada por nossos povos. Por isso, é de extrema importância que este processo não seja perturbado pela fraude e pela conspiração”.
Além desses fatos denunciados por uma observadoraisenta, os chavistas também detectaram vícios no referendo. O mais grave deles foi praticado por empresários oposicionistas que obrigavam seus empregados a assinar contra Chávez.
O anúncio oficial da consulta popular é de responsabilidade do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), que tem até três de janeiro para apresentar o resultado do referendo. Até lá, Chávez vai enfrentar uma verdadeira guerra psicológica desencadeada pelos principais jornais do país, que são controlados pela oposição e que já tentaram derrubar o presidente mais de uma vez. Os jornais venezuelanos contam com a estreita colaboração da CNN, rede de televisão norte-americana que é capaz inclusive de fraudar imagens. No caso do referendo, mostrou uma fila de pessoas que estavam fazendo compras e disse que era fila para a coleta de assinaturas. Depois, singelamente, pediu desculpas.
Essa não é a primeira vez que Hugo Chávez enfrenta uma tentativa de desestebilização comandada pela imprensa. Em abril de 2002, na primeira tentativa, o jornal “El Universal”, parte importante da tentativa de golpe de estado contra o presidente publicou, em letras garrafais, manchete dizendo “Acabou-se”. Dois dias depois, o jornal foi obrigado a desmentir sua própria manchete, desta vez com letras em tamanho normal, dizendo “Chávez restituído à Presidência”.
Desta vez, com as mesmas letras garrafais, o “El Universal”, em manchete do dia três de dezembro, anuncia “Assinaturas suficientes’’. O objetivo principal desta manchete é pressionar o Conselho Nacional Eleitoral que, para desespero da oposição, em dois outros referendos conduziu-se com seriedade, imparcialidade e transparência. Com manchetes dessa natureza, o principal jornal de Caracas pretende demolir a autoridade do CNE.
Indiferente a tudo isso, a Organização Interamericana de Imprensa jamais se manifestou contra os órgãos de comunicação da Venezuela que, apesar da campanha diária para minar Hugo Chávez, enfrenta a resitência bolivariana de um povo que exige respeito à sua soberania.