BOLÍVIA FERMENTANDO
Ainda sob o impacto da rebelião que derrubou um presidente da república e já inquieto com os rumos do novo governo, o povo boliviano recebeu sem entusiasmo o discurso feito pelo presidente Carlos Mesa na noite do primeiro domingo de 2004. Mesa prometeu um referendum sobre o destino do gás, uma das maiores fontes de riqueza daquele país e, ao mesmo tempo lamentou a perda do mercado norteamericano na exportação desse produto. Foi exatamente a questão do gás que detonou o processo de rebelião e já há rumores, cada vez mais intensos, de um novo processo de convulsão social ainda no primeiro semestre desse ano.
Já se prevenindo contra a possibilidade de um novo levante, Mesa disse em seu discurso que “se quebrou perigosamente o cumprimento da lei. Qualquer sociedade civilizada, qualquer sociedade que pretende construir racionalmente seu futuro deve basear-se no conceito de cidadania responsável e no conceito do cumprimento da lei”, disse o presidente boliviano logo no início de sua fala à nação.
Ora, um processo pré-revolucionário, tal como aconteceu na Bolívia, pressupõe, antes de tudo, a quebra das regras em vigor, exatamente para mudá-las. Alertar contra o descumprimento da lei frente à possibilidade de uma nova rebelião, ao mesmo tempo em que usa a palavra “civilizado’’ para manter inalterada uma situação traz um gosto amargo de ameaça. Além disso, Mesa anunciou que vai erradicar a coca, quase num desafio ao enorme contingente popular que sobrevive do plantio e venda da coca. Paralelamente, pediu mais sacrifícios a um povo que vive miseravelmente.
Mesa também se referiu à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), dizendo que “vai trabalhar para conseguir novos mercados e não protestem quando se fizer um acordo de livre comércio com os Estados Unidos”. Ele disse ser favorável á proposta brasileira para a ALCA, que quer regras mais flexíveis, mas suas palavras destoam do acordo feito pelos negociadores bolivianos na reunião da ALCA em novembro na cidade de Miami. Bolívia, Peru, Equador e Chile concordaram com a proposta do secretário americano de Comércio Robert Zoellick que, para salvar o encontro propôs acordos bilaterais, enfraquecendo a posição brasileira. Portanto, o tom do discurso nesse ponto foi, no mínimo, hipócrita.
O discurso recebeu muitas críticas. O líder indígena Evo Morales, do MAS (Movimento ao Socialismo) classificou o pronunciamento do presidente de “reformista, timorato e moderado”. Morales disse também lamentar a incapacidade de Carlos Mesa para mudar o modelo. “Parecia mais um discurso de empresário neoliberal”, arrematou.
O representante do Movimento Indígena Pachacuti, Juan Gabriel Bautista foi na mesma linha. Ao analisar a fala de Mesa, ele disse que o presidente boliviano “não falou da pobreza, foi tíbio e medroso diante do FMI”.
Em outras palavras, Carlos Mesa desagradou. Suas palavras não traduziram os anseios dos líderes que comandaram a rebelião e continuam em alerta, prontos para retomar as ações em defesa da soberania do país.
Ainda sob o impacto da rebelião que derrubou um presidente da república e já inquieto com os rumos do novo governo, o povo boliviano recebeu sem entusiasmo o discurso feito pelo presidente Carlos Mesa na noite do primeiro domingo de 2004. Mesa prometeu um referendum sobre o destino do gás, uma das maiores fontes de riqueza daquele país e, ao mesmo tempo lamentou a perda do mercado norteamericano na exportação desse produto. Foi exatamente a questão do gás que detonou o processo de rebelião e já há rumores, cada vez mais intensos, de um novo processo de convulsão social ainda no primeiro semestre desse ano.
Já se prevenindo contra a possibilidade de um novo levante, Mesa disse em seu discurso que “se quebrou perigosamente o cumprimento da lei. Qualquer sociedade civilizada, qualquer sociedade que pretende construir racionalmente seu futuro deve basear-se no conceito de cidadania responsável e no conceito do cumprimento da lei”, disse o presidente boliviano logo no início de sua fala à nação.
Ora, um processo pré-revolucionário, tal como aconteceu na Bolívia, pressupõe, antes de tudo, a quebra das regras em vigor, exatamente para mudá-las. Alertar contra o descumprimento da lei frente à possibilidade de uma nova rebelião, ao mesmo tempo em que usa a palavra “civilizado’’ para manter inalterada uma situação traz um gosto amargo de ameaça. Além disso, Mesa anunciou que vai erradicar a coca, quase num desafio ao enorme contingente popular que sobrevive do plantio e venda da coca. Paralelamente, pediu mais sacrifícios a um povo que vive miseravelmente.
Mesa também se referiu à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), dizendo que “vai trabalhar para conseguir novos mercados e não protestem quando se fizer um acordo de livre comércio com os Estados Unidos”. Ele disse ser favorável á proposta brasileira para a ALCA, que quer regras mais flexíveis, mas suas palavras destoam do acordo feito pelos negociadores bolivianos na reunião da ALCA em novembro na cidade de Miami. Bolívia, Peru, Equador e Chile concordaram com a proposta do secretário americano de Comércio Robert Zoellick que, para salvar o encontro propôs acordos bilaterais, enfraquecendo a posição brasileira. Portanto, o tom do discurso nesse ponto foi, no mínimo, hipócrita.
O discurso recebeu muitas críticas. O líder indígena Evo Morales, do MAS (Movimento ao Socialismo) classificou o pronunciamento do presidente de “reformista, timorato e moderado”. Morales disse também lamentar a incapacidade de Carlos Mesa para mudar o modelo. “Parecia mais um discurso de empresário neoliberal”, arrematou.
O representante do Movimento Indígena Pachacuti, Juan Gabriel Bautista foi na mesma linha. Ao analisar a fala de Mesa, ele disse que o presidente boliviano “não falou da pobreza, foi tíbio e medroso diante do FMI”.
Em outras palavras, Carlos Mesa desagradou. Suas palavras não traduziram os anseios dos líderes que comandaram a rebelião e continuam em alerta, prontos para retomar as ações em defesa da soberania do país.
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