NAS ENTRELINHAS                                 


EM DEBATE

de Memélia Moreira

Terça-feira, Abril 20, 2004

Os desconfortos do presidente Lula
Mário Lima Filho

Já não bastasse a crise interna do PT e o escândalo “Waldomiro Diniz”, o Governo enfrenta, agora, o desligamento dos partidos que compõem o bloco de apoio a sua base. O mais recente a se rebelar foi o PL, partido do vice-presidente da República José Alencar. O líder do partido, senador Magno Malta (ES) entregou à Mesa Diretora do Senado o pedido oficial. Além do líder, deixam o bloco os senadores Aelton de Freitas (PL/MG), suplente do vice-presidente José Alencar, e Marcelo Crivela (RJ). Com o afastamento dos três parlamentares, o PMDB fica composto por 22 senadores, o que o torna o maior partido da Casa.
Com a decisão de se afastar do bloco, o PL se junta ao PPS e ao PMDB
Depois de toda essa movimentação do PL, o presidente da sigla, deputado Valdemar Costa Neto (SP), voltou a pedir a demissão do presidente do Banco Central, Henrique Meireles.
Para o deputado, vários fatores mostram que Henrique Meireles não deveria ocupar o cargo no governo, alegando que além de o presidente do Banco Central não ter votado no Lula ele é um banqueiro e por isso não poderia exercer o cargo de presidente do BC.
Com toda essa insatisfação dos partidos, o presidente Lula tenta apaziguar a situação atendendo a velhos pedidos formulados pelos líderes partidários, para tanto, em um jantar com parlamentares da base aliada, o presidente prometeu corrigir as divergências e aprimorar o relacionamento com o PMDB, que teve como porta-voz o senador Renan Calheiros.
Calheiros se mostrou contente com o resultado das negociações tratadas com o presidente, segundo ele, foi a melhor das conversas mantidas com o chefe do Executivo.
Ainda de acordo com Calheiros, Lula prometeu abrir mais o leque ao PMDB, recebendo os parlamentares e envolvendo mais o partido nas decisões do governo. Lula também prometeu intervir no impasse sobre a nomeação de cargos de confiança nas duas pastas chefiadas pelo PMDB. O Ministro Amir Lando (Previdência) e Eunício Oliveira (Comunicações) reclamam de obstáculos para indicar funcionários nas pastas que comandam.
No jantar de “confraternização” estavam presentes o presidente do Senado, José Sarney (PMDB/AP), que pretende permanecer no cargo, o presidente nacional do PMDB, deputado e ex-presidente da Câmara, Michel Temer (SP), o líder da sigla na Câmara, José Borba (PR), os líderes do governo na Câmara e no Senado, deputado Professor Luizinho (PT/SP), o senador Aloízio Mercadante (PT/SP), e os ministros Eunício Oliveira, José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política).
Já no universo da Câmara, os partidos resolveram bloquear as votações das MP`s, obstruindo sessões. Há cerca de dez dias O PP está em rebelião e os seus componentes são orientados a não registrar presença para não dar quórum no Plenário. O partido reivindica pressa ao governo na nomeação de integrantes do partido para cargos em empresas estatais. O principal pleito do PP é a Diretoria de Abastecimento da Petrobrás.
Por sua vez, o PTB se junta ao PP e exige a nomeação imediata dos seus indicados.
Um outro fator que está deixando o Presidente Lula desorientado é o aumento do salário mínimo. O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros se juntou ao vice-presidente do Senado, Pedro Paim (PT/RS) e defende o aumento do salário para US$100, o que equivaleria em real, mais ou menos, R$ 280, mas lula deixou claro que o aumento será de acordo com a inflação do período, estimada em 7%. O PMDB quer ainda que o novo valor do mínimo seja pago retroativamente ao mês de abril, e não a partir de 1º de maio.
O senador Paulo Paim, que também participou da reunião com o presidente, mostrou a Lula, ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e aos demais participantes do encontro que no valor de hoje, R$ 240, o mínimo não suporta as despesas de uma família de dois adultos e duas crianças. Pelos seus cálculos sobram apenas R$ 17 para alimentação.