EMBATE NO SENADO
Luzia Jakomeit
A medida provisória do salário mínimo deve ser votada nesta quarta-feira pelo Senado Federal. Pelo enos essa é a intenção do Governo. Mais do que um teste para se saber a quantas andas a unidade da base do Governo, a votação será o primeiro round da luta interna travada, desde março, entre os seguidores do ministro José Dirceu, chefe da casa Civil da presidência da República e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores e o ministro de Articulação Política, Aldo Rebelo, deputado federal por São Paulo, eleito pelo Partido Comunista do Brasil.
Os dois têm a mesma formação básica. Foram forjados, em épocas diferentes, na luta estudantil. As semelhanças param por aí e as diferenças estão se tornando cada dia mais profundas, principalmente porque José Dirceu, o grande arquiteto da vitória de Luis Inácio Lula da Silva em 2002, perdeu seu poder de fogo na República quando aldo Rebelo foi nomeado ministro, assumindo funções que eram de Dirceu, inclusive de distribuição de cargos que, no Brasil, há muitos anos se tornou o elemento ?ideológico?? de maior poder de convencimento dentro e fora do Congresso Nacional.
Mesmo no seu retiro pelas calles de Buenos Aires, onde se refugiou para não participar da confraternização junina oferecida por Lula no último sábado, José Dirceu conseguiu estar presente no noticiário. E a notícia mais parecia uma declaração de guerra: ele decidiu entrar nas negociações para aprovar o salário mínimo no Senado. E o aviso tinha, nas entrelinhas um recado sutil mas definitivo para Aldo Rebelo. Que o ministro da Articulação Política recolha-se à sua posição de representante de partido minoritário porque vem aí o representante da maior força política do Governo. Antes disso, Dirceu jurou fidelidade ?canina? (triste cultura essa, que precisa apelar para os cachorros quando quer exaltar suas virtudes) ao presidente Lula. Talvez alguém duvidasse.
E no Senado, há um suspense que faria inveja a Hitchcock. O presidente da casa, José Sarney (PMDB/AP) vai estar com Dirceu no trabalho de convencimento para que os senadores aprovem a vergonhosa quantia de R$ 260 reais de salário mínimo. Mas, raposa velha, Sarney escolheu um representante do PFL para relatar a matéria. E não um representante qualquer, mas um desses esbirros de Antonio Carlos Magalhães, esse sim, um dos mais poderosos políticos brasileiros a quem, nos últmos 40 anos, os governantes de plantão beijaram a mão. Magalhães anda insatisfeito com o governo, comportamento que, vindo de onde vem, deixa qualquer governo um tanto assustado. Mas Lula confia na sua capacidade persuasiva e vai almoçar com Antonio Carlos Magalhães, o mais famoso babalorixá da Bahia. Que se cuide o deputado Nélson Pellegrino, candidato do PT à prefeitura de Salvador. Sua pretensão de dirigir a cidade pode, nesse almoço, estar sendo entregue, tal a cabeça de São João Batista, numa bandeja para Magalhães que desafia qualquer poder a vencer seus candidatos.
As feridas dessa batalha podem não cicatrizar. Seja quem for o vencedor, o Governo já perdeu por antecipação porque se Dirceu se considerar vitorioso, dificilmente Lula conseguirá aplacar a sede de poder de seus correligionários que querem despejar rebelo e devolver todo o poder a dirceu, como já foi um dia. E a novela do valor do salário mínimo de 2004 vai passar para a triste história brasileira como mais um desses capítulos lamentáveis onde bandidos e mocinhos se confundem.
Luzia Jakomeit
A medida provisória do salário mínimo deve ser votada nesta quarta-feira pelo Senado Federal. Pelo enos essa é a intenção do Governo. Mais do que um teste para se saber a quantas andas a unidade da base do Governo, a votação será o primeiro round da luta interna travada, desde março, entre os seguidores do ministro José Dirceu, chefe da casa Civil da presidência da República e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores e o ministro de Articulação Política, Aldo Rebelo, deputado federal por São Paulo, eleito pelo Partido Comunista do Brasil.
Os dois têm a mesma formação básica. Foram forjados, em épocas diferentes, na luta estudantil. As semelhanças param por aí e as diferenças estão se tornando cada dia mais profundas, principalmente porque José Dirceu, o grande arquiteto da vitória de Luis Inácio Lula da Silva em 2002, perdeu seu poder de fogo na República quando aldo Rebelo foi nomeado ministro, assumindo funções que eram de Dirceu, inclusive de distribuição de cargos que, no Brasil, há muitos anos se tornou o elemento ?ideológico?? de maior poder de convencimento dentro e fora do Congresso Nacional.
Mesmo no seu retiro pelas calles de Buenos Aires, onde se refugiou para não participar da confraternização junina oferecida por Lula no último sábado, José Dirceu conseguiu estar presente no noticiário. E a notícia mais parecia uma declaração de guerra: ele decidiu entrar nas negociações para aprovar o salário mínimo no Senado. E o aviso tinha, nas entrelinhas um recado sutil mas definitivo para Aldo Rebelo. Que o ministro da Articulação Política recolha-se à sua posição de representante de partido minoritário porque vem aí o representante da maior força política do Governo. Antes disso, Dirceu jurou fidelidade ?canina? (triste cultura essa, que precisa apelar para os cachorros quando quer exaltar suas virtudes) ao presidente Lula. Talvez alguém duvidasse.
E no Senado, há um suspense que faria inveja a Hitchcock. O presidente da casa, José Sarney (PMDB/AP) vai estar com Dirceu no trabalho de convencimento para que os senadores aprovem a vergonhosa quantia de R$ 260 reais de salário mínimo. Mas, raposa velha, Sarney escolheu um representante do PFL para relatar a matéria. E não um representante qualquer, mas um desses esbirros de Antonio Carlos Magalhães, esse sim, um dos mais poderosos políticos brasileiros a quem, nos últmos 40 anos, os governantes de plantão beijaram a mão. Magalhães anda insatisfeito com o governo, comportamento que, vindo de onde vem, deixa qualquer governo um tanto assustado. Mas Lula confia na sua capacidade persuasiva e vai almoçar com Antonio Carlos Magalhães, o mais famoso babalorixá da Bahia. Que se cuide o deputado Nélson Pellegrino, candidato do PT à prefeitura de Salvador. Sua pretensão de dirigir a cidade pode, nesse almoço, estar sendo entregue, tal a cabeça de São João Batista, numa bandeja para Magalhães que desafia qualquer poder a vencer seus candidatos.
As feridas dessa batalha podem não cicatrizar. Seja quem for o vencedor, o Governo já perdeu por antecipação porque se Dirceu se considerar vitorioso, dificilmente Lula conseguirá aplacar a sede de poder de seus correligionários que querem despejar rebelo e devolver todo o poder a dirceu, como já foi um dia. E a novela do valor do salário mínimo de 2004 vai passar para a triste história brasileira como mais um desses capítulos lamentáveis onde bandidos e mocinhos se confundem.
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